As 4 baixinhas da ETFMG
A amizade das quatro baixinhas da Turma de Química
Como não escrever sobre a amizade que floresceu entre quatro baixinhas da Turma de Química da ETFMG, durante o período de 1973 a 1975? Marlene, Tânia, Márcia e Rivane, após serem aprovadas em um desafiador processo seletivo, se conheceram e formaram um laço de amizade que transcendeu os anos e as circunstâncias.
Desde o início, a união dessas quatro amigas foi marcada por um forte espírito de camaradagem. Juntas, elas compartilhavam não apenas o ambiente escolar, mas também momentos fora dele, sempre encontrando razões para se reunir. O apoio familiar era evidente e contribuiu para que essa amizade se consolidasse, refletindo a dedicação e o comprometimento que as baixinhas tinham com os estudos.
Com o passar do tempo, cada uma seguiu um caminho distinto, tanto na vida acadêmica, quanto pessoal. A sintonia entre elas, no entanto, se manteve, revelando-se em momentos importantes de suas vidas, como casamentos e a chegada dos filhos, que ocorreram de forma quase sincronizada.
O destino levou Márcia a mudar-se para Sete Lagoas, depois para o Mato Grosso, e atualmente reside em João Pessoa. Marlene estabeleceu-se em Lagoa Santa, enquanto Rivane permaneceu em Belo Horizonte e Tânia em Sabará. Apesar das distâncias e das mudanças ao longo dos anos, a amizade nunca foi esquecida.
Após 50 anos, o reencontro dessas quatro amigas foi uma celebração de memórias e risadas. O que mais surpreendeu foi a sensação de continuidade; parecia que o tempo não havia passado. No primeiro encontro, as conversas fluíam naturalmente, e a alegria de se reconectar era perceptível.
Atendendo ao desejo de registrar a história da turma, começamos agora a recordar algumas lembranças que marcaram a trajetória dessas quatro baixinhas. Afinal, a amizade é um tesouro que permanece intocado pelo tempo.
Memórias de Marlene
Depois do reencontro maravilhoso com alguns colegas da nossa turma, resolvemos registrar nossas lembranças, aquelas que nos unem até hoje, mesmo após 50 anos. Na adolescência, antes de realmente descobrir o que queria da vida, comecei a estudar o Científico, primeiro no Colégio Estadual da Serra e, no ano seguinte, no Colégio Estadual Central. Naquela época, eu trabalhava, por isso estudava à noite. Mas logo percebi que aquela rotina não era o que eu realmente queria e decidi fazer o cursinho preparatório para a ETFMG.
Foi uma das melhores decisões que tomei. O período na ETFMG foi inesquecível, um dos momentos mais felizes da minha vida. Eu, Rivane, Tânia e Márcia formávamos o grupo das "quatro baixinhas", inseparáveis. Estávamos sempre juntas, compartilhando risadas, segredos e momentos que marcaram profundamente nossa juventude. Uma dessas lembranças especiais foi quando, todas com namorados, resolvemos presenteá-los com correntinhas iguais. Combinamos de nos encontrar em um barzinho, e foi mágico ver a surpresa deles ao receberem o mesmo presente. Aquela foi uma demonstração do nosso carinho, um gesto simples que simbolizava muito para nós.
Outro momento significativo foi a promessa que fiz de que uma delas batizaria minha primeira filha. Como a escolha era difícil, eu e Eduardo decidimos sortear, e Rivane foi a escolhida. Foi uma decisão que selou ainda mais nossa amizade, um laço que transcendeu o tempo.
Lembro também das nossas horas de estudo, muitas vezes na casa da Rivane, onde seus pais sempre nos recebiam com muito carinho. Ficávamos lá até tarde da noite, envolvidas nos estudos, mas também nas conversas que fluíam naturalmente. As viagens de ônibus eram outro ponto alto, cheias de risadas, brincadeiras e segredos que compartilhávamos.
A turma toda era muito unida, um verdadeiro exemplo de amizade e parceria. Sempre estávamos prontos a ajudar uns aos outros nas atividades escolares, e também nos divertíamos juntos. Praticávamos esportes, como vôlei, assistíamos aos jogos de futebol dos rapazes, e claro, não faltavam as festinhas de aniversário, onde celebrávamos a vida e nossa amizade.
Agora, ao olhar para trás, vejo que o tempo passou, formamos nossas famílias, mas aquelas lembranças continuam vivas. Nem mesmo, meio século foi capaz de apagar as memórias e os laços que construímos. Nossa amizade sobreviveu ao tempo e permanece tão forte e brilhante como era naquela época.
Memórias de Tânia
Tânia, uma das quatro baixinhas da turma de Química da ETFMG, traz à tona memórias que, embora marcadas pela passagem do tempo, ainda refletem a forte amizade e o companheirismo que uniu o grupo. Com um tom nostálgico, ela admite a dificuldade em lembrar de todos os detalhes, mas algumas passagens permanecem claras em sua mente.
Uma das lembranças mais significativas de Tânia é de um momento difícil em sua vida pessoal, quando perdeu o avô. Apesar da tristeza, ela recorda que as amigas mandaram um recado pedindo que ela fosse à aula, pois havia uma prova importante e seria sua última oportunidade de fazê-la. "Meu pai me levou para a escola logo após o velório do meu avô, para que eu pudesse realizar a prova", conta Tânia. No entanto, apesar da clareza desse gesto, ela admite que não consegue se lembrar de quem era o professor ou das circunstâncias exatas da prova. O que ficou gravado em sua memória foi o aviso das amigas e a compreensão de que aquele era um momento decisivo.
Outro episódio que destaca a força do grupo foi quando Tânia precisou enfrentar uma recuperação. "Eu tomei recuperação uma vez, e vocês foram para me dar força", ela relembra com carinho. Naquele dia, suas amigas permaneceram sentadas no corredor da escola, esperando pacientemente enquanto ela fazia a prova. "Ficaram todas lá até eu terminar", diz, demonstrando o quanto o apoio das colegas foi essencial para que ela se sentisse encorajada e capaz de concluir aquele desafio.
Essas memórias revelam não apenas os desafios acadêmicos enfrentados pela turma, mas, principalmente, o laço de amizade que transcendia as dificuldades. Para Tânia, o apoio incondicional de suas amigas foi fundamental, e esses momentos, embora fragmentados, são preciosas lembranças de uma época de união e companheirismo.
Memórias de Márcia
Nascida em Campos Altos, cidade acolhedora do Triângulo Mineiro, Márcia viu sua vida se transformar quando, em 1972, se mudou para Belo Horizonte, em busca de oportunidades que o pequeno município não podia oferecer. Com muito esforço e dedicação, no ano seguinte, ela enfrentou um rigoroso processo seletivo e conseguiu ingressar na Escola Técnica Federal de Minas Gerais (ETFMG), no curso de Química — um feito notável e que encheu sua família de orgulho.
Seu perfil tímido não a impediu de criar laços significativos; pelo contrário, ela sempre se mostrou aberta a fazer novas amizades. Na convivência diária com os colegas de turma, muitos se tornaram grandes amigos, mas foi com Marlene, Rivane e Tânia que ela criou um vínculo especial. As quatro eram inseparáveis e logo ganharam o apelido de "as quatro baixinhas" — um nome que, para quem as conhecia, não precisava de explicações.
O grupo era muito mais do que apenas colegas de classe; eram cúmplices e companheiras que se apoiavam em todas as situações. Eram a personificação da amizade e da força da união dentro da ETFMG, sempre prontas a ajudar uma à outra, seja nos estudos ou nos desafios da vida pessoal. Entre os laboratórios de química e os corredores da escola, o espírito de irmandade das quatro baixinhas se destacava, tornando-se um símbolo de lealdade e apoio mútuo.
Essa união foi fundamental para que a experiência na ETFMG se tornasse mais leve e divertida, e é lembrada até hoje como uma das maiores dádivas daquele tempo. A história das quatro baixinhas não é só sobre amizade, mas sobre resiliência, sobre o poder das conexões humanas e sobre como pessoas podem ser porto seguro umas para as outras durante uma fase tão desafiadora e transformadora da vida.
Memórias de Rivane
Rivane, uma das quatro baixinhas da turma de Química da ETFMG, relembra com carinho momentos marcantes vividos com suas amigas de juventude. Suas memórias trazem à tona a simplicidade das celebrações e a alegria de pequenas conquistas compartilhadas.
Ela recorda, por exemplo, uma festinha especial em que comemoraram os aniversários dela, de Marlene e de Márcia, já que as três faziam aniversário em outubro. Com o espírito de camaradagem que sempre marcou o grupo, a turma fez uma "vaquinha" e presenteou as três amigas com calças jeans, um item tão desejado na época. "Será que foi isso mesmo ou eu estou viajando?", ela brinca, revelando o tom leve e saudoso das suas lembranças.
Outro momento que permanece vívido na sua memória é a rotina de pegar o ônibus da Escola Técnica para ir ao centro da cidade. As viagens eram recheadas de risadas, brincadeiras e bagunça, criando uma atmosfera de alegria e descontração que fazia cada trajeto especial.
Rivane também compartilha uma lembrança emocionante de quando foram visitar Marlene, que acabara de ter um bebê. Na ocasião, Márcia estava grávida, com uma barriga já bem grande. Na hora de ir embora, ao ver o ônibus se aproximando, Márcia saiu correndo, e Rivane, preocupada, ficou apavorada com a possibilidade de ela cair. Essas cenas, que misturam preocupação e carinho, demonstram a forte ligação entre elas.
"A nossa convivência sempre foi muito boa, muito bonita", afirma Rivane, ressaltando que essa amizade transcendeu o tempo e as circunstâncias. "Minha família toda se lembra muito das três, porque elas sempre foram muito importantes na minha vida. Até os nossos maridos são amigos."
Com o coração cheio de gratidão, Rivane encerra suas memórias com um desejo sincero: "Que Deus continue abençoando essa amizade e que ela perdure para sempre."